
Na semana passada, estivemos pela primeira vez no South Summit Brasil, em Porto Alegre. Animadas pela presença em um grande evento de inovação, logo nos deparamos com um fato curioso: a moda simplesmente não aparecia entre os temas prioritários.
E tudo bem, considerando que essa não era a proposta inicial do evento, e estávamos ali para expandir nossos horizontes. Mas isso nos fez questionar mais profundamente: por que os painéis principais, os pitches de startups, e até mesmo os corredores de networking estavam tão desconectados de um dos setores mais relevantes da economia global? Decidimos ampliar a reflexão e contamos com a sua opinião ao final da leitura 🙂
Uma reflexão sobre oportunidades e a importância de conectar diferentes setores
Nos eventos de inovação em geral, e não apenas no South Summit Brasil, vemos com frequência a presença consolidada de setores como energia, finanças, tecnologia, agro e saúde. Todos absolutamente importantes.
Mas onde está a moda? As conversas sobre circularidade, upcycling, rastreabilidade, trabalho digno e novos sistemas produtivos aplicados ao vestuário, calçados e acessórios – tão avançadas em fóruns especializados – mal aparecem na programação desses eventos.
Em Porto Alegre, não só em tempos de South Summit, hoje existe uma forte retórica sobre economia criativa e sua importância para a cidade. Ainda assim, a moda raramente é destacada como uma oportunidade econômica significativa.
Por que excluir a moda do debate?
A moda carrega uma contradição. De um lado, movimenta bilhões, cria desejos de consumo, dita tendências, impacta a identidade das pessoas e ajuda a construir narrativas sociais; por outro, ainda é pouco reconhecida como vetor de transformação capaz de gerar impacto positivo em questões como trabalho justo e valorização de resíduos têxteis (para ficar só em dois exemplos).
Muitas vezes, nas conversas sobre o presente e o futuro, a moda continua sendo percebida como algo superficial ou menos importante. Fútil, até.
Deixar a moda de lado não é um acaso, claro. Eventos têm curadoria, portanto refletem escolhas. E, nesse sentido, o pouco conhecimento sobre a cadeia de valor da moda, que é bastante complexa, pode torná-la mais distante do interesse geral. Sem contar as questões de gênero – afinal, trata-se de um campo tradicionalmente associado ao feminino e frequentemente subvalorizado por isso.

A moda faz falta nos ambientes de inovação?
Quando a moda fica de fora dos espaços de inovação, não é só o setor da moda que perde. Todo o ecossistema deixa de repensar, com profundidade e escala, sobre as experiências e avanços de um setor que conecta cultura, comportamento, tecnologia e economia como poucos outros conseguem fazer.
De maneira geral, a ausência da moda nos espaços de inovação acaba reproduzindo uma lógica que queremos superar: de que tudo está segmentado, hierarquizado, que só o que se enquadra em alguns requisitos técnicos é considerado “disruptivo” o suficiente.
Assim, a força de iniciativas conectadas à moda, como a constante colaboração entre empresas para promover mudanças nos processos produtivos, deixa de ser vista e amplificada. A moda, vale frisar mais uma vez, pode ser um campo extremamente fértil para colaboração em ambientes complexos e transformação sistêmica.
Oportunidades para um ecossistema de inovação mais plural
Quando eventos de inovação ampliam a lente e reconhecem que moda é tecnologia, cultura, sistema produtivo, comportamento e, também, inovação para impacto positivo, fica mais fácil reconhecer o papel do setor na transição para novas economias, para modelos mais justos e sustentáveis.
Pensamos em alguns caminhos que os grandes eventos de inovação, como o South Summit, poderiam adotar na hora de definir sua programação:
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Painéis sobre rastreabilidade e blockchain aplicados à moda – conectando tecnologia e transparência;
- Startups que trabalham com economia circular têxtil – mostrando inovação prática e escalável;
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Modelos regenerativos de cadeia produtiva – revelando o futuro da produção responsável;
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Iniciativas que aliam educação, inclusão e sustentabilidade via moda – destacando impacto social;
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Projetos de design que repensam os próprios sistemas de consumo e desejo – transformando comportamentos.
E tem muitas outras possibilidades! Nosso ponto é: a transição para uma economia verdadeiramente sustentável e inovadora não pode deixar a moda de fora. Pelo contrário, talvez seja justamente este setor – complexo, global e cheio de desafios – que nos ofereça as lições mais valiosas para transformar nossos sistemas produtivos.
Você concorda? Que outros temas da moda poderiam estar presentes nos grandes eventos de inovação?

Sobre a Cora Design
Somos uma consultoria estratégica de sustentabilidade para o setor têxtil e da moda, com sede no Brasil. Acreditamos na potência de transformação da moda em busca de um outro sistema, mais integrado, circular e sustentável.
Atuamos nos espaços de interseção entre comunicação, produto, cultura e estratégia, traduzindo complexidades em caminhos possíveis, e conectando marcas e pessoas a um novo jeito de estar no mundo. Nosso trabalho com parceiros como Justa Trama e Grupo Azzas demonstra que é possível unir impacto positivo e viabilidade de negócio no setor da moda.
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